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25 novembro 2006

O sangue da flor

Saudações amigas!
Nestes dias estive revisando meu arquivo de poemas e encontrei este escrito há nove anos. Antes de lhes oferecer para a leitura e comentário, devo informar que nunca fui fã da pessoa aqui homenageada. Ao contrário, sempre olhei com um certo distanciamento para sua imagem. Não me inspirava confiança. Porém um fato trágico acontecido com ela, me indignou. Não agüentei e escrevi este texto em sua honra. Como cidadão não quis ficar indiferente à sua dor.
Façam suas leituras e deixem seus comentários. De hoje em diante, me comprometo a responder as coisas escritas por vocês.
Beijos e saúde!
Harold


O sangue da flor

Aroldo José

Já faz um certo tempo que um poeta brasileiro,
Sem dúvida, o maior e o melhor de todos,
Prestou homenagem ao homem do povo:
O genial Chaplin, o vagabundo.



E como disse, já faz um certo tempo.
E agora outro poeta esforçado,
Não tão iluminado quanto o grande Drummond,
Ergue sua voz em honra de outra personalidade britânica



Ao saber que veio a notícia
de que morreu uma princesa,
Uma mulher que procurava a felicidade.
Alguém que queria ser um simples alguém.



Mas eis que a tranqüildade é vã
E que surge alguém atrás da melhor pose.
Niguém quer saber sua opinião:
“-- Posso fotografá-la senhora?”
Paparazzo”, “paparazzi”, papagaio!
“-- Lá vai ela!”
“-- Atrás dela!”
“-- A melhor pose é de quem chegar primeiro.”



A bela só queria ser feliz,
Ter um amor verdadeiro.
Mas a vida é assim:
Por amor se morre,
Pela fofoca se mata.
Assim é a vida.



Então ela fugiu.
Mas para toda borboleta bonita
Que voar neste jardim,
Haverá um monte de caçadores,
Colecionadores da vaidade,
Jardineiros da flor da morte.



Oh mulher! E o seu sangue fica espalhado pela rua,
Sua face exprime sofrimento.
Alguns gritarão o seu nome incessantemente,
A flor ferida, a flor despedaçada.
Todavia os abutres pensarão sobre o quanto é belo
Registrar o sofrimento da flor.
Quanto sangue,
Quanto perfume,
Que pose bonita ela empresta ao sofrimento.



E sua beleza é contemplada pela insensatez.
Talvez este lamento seja invalidado
Por opiniões sobre ir e vir,
Entrar e sair das vidas alheias



Ela era apenas uma mulher.
Apesar de tudo,
Apenas uma mulher.
Porém ninguém quer saber da mulher,
O mito é maior.



Assim é o mundo do fim do século:
Registrar a vida é preciso.
É um serviço público,
Mesmo que isso atrapalhe o viver alheio.



Nossas vidas, pobres vidas.
Grandes espetáculos jornalísticos,
Propriedades públicas.
Pessoas viram imagens
E imagens não têm direito ao respeito,
Não têm dignidade.



Por fim, a morte!
A flor deixou de enfeitar o jardim,
Ninguém sabe o que aconteceu.
Tudo tão rápido,
velocidade ultra-máxima,
Destroços... sangue... morte...
A flor em pedaços...



Agora é hora de chorar,
Os espinhos machucaram a flor.
Porém o mais importante para os construtores da notícia,
É poder registrar a perda do sangue,
A perda do encanto,
A perda da vida.



Passou o tempo, a flor virou semente
E foi plantada no fundo do seu quintal.
o mundo viu a flor-princesa descer ao solo.
A lágrima era real,
Outras flores cobriram a eterna morada da flor-mulher.



Para cada flor que fenece,
Nasce outra flor noutro jardim.
Tão bela quanto a anterior,
Talvez até mais bela.



Mas, mesmo com o desencanto,
O espanto,
O assombro,
A foto indiscreta não disfarçará
A dignidade humana,
O direito de felicidade de toda mulher.



Belém, 19/09/97
Para Diana Spencer

Festival: abertura e primeiro dia

O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro chega à sua edição de número 39. Como das outras edições, vemos um pouco de tudo: da ação de cineastas inovadores à procura desenfreada de algumas fãs pelos artistas contratados da Rede Globo. Tietagens à parte, muita coisa legal merece registro nestes dias cinematográficos em Brasília.
Como de praxe, a abertura do evento foi no Teatro Nacional. Lá estavam as pessoas bem vestidas (ou quase). A orquestra regida pelo maestro amapaense Joaquim França tocou dois temas belos e se retirou. Em seguida, foi anunciada a exibição "hors concours" do filme "Romance do Vaqueiro Voador", de Manfredo Caldas, inspirado no poema homônimo de de João Bosco Bezerra Bonfim, tematizando o universo mitico do nordestino que, transformado em candango, veio participar da construção da capital federal. Há também a participação de Luis Carlos Vasconcelos lendo trechos do poema de Bonfim. O filme foi bem recebido pela platéia. Particularmente, creio que se fosse exibido na mostra competitiva, o "Romance..." não assustaria os demais concorrentes. Seu conteúdo lírico enternece aos espectadores. Só!
No dia seguinte, a coisa já foi para valer no cine Brasília. Lá estavam público, imprensa, artistas, equipes e organziação esperando o início da mostra competitiva. Os concorrentes de curta metragem, cada um com duração de 15 minutos, eram: "Noite de sexta, manhã de sábado" e "Hibakusha: Herdeiros atômicos no Brasil". O primeiro, dirigido pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho, conta a história de um homem que conversa no celular com sua amada na noite de sexta-feira mas volta sozinho para sua casa na manhã seguinte.
O segundo, do diretor paulista Maurício Kinoshita, focaliza as histórias de pessoas que sobreviveram aos horrores de Hiroshima e Nagasaki. A platéia recebeu com gentileza as duas produções. Considerando a boa fase do cinema pernambucano, o filme de Mendonça Filho se coloca como um favorito para levar o troféu Candango na categoria de melhor curta. Porém a forte temática social do filme de Kinoshita não o exclui da disputa.
O único concorrente da noite na categoria longa metragem foi: "Jardim Ângela". O filme dirigido pelo paulista Evaldo Mocarzel tematiza uma região de São Paulo dividida pelos problemas refrentes ao tráfico de drogas. De um lado, estão as pessoas que aceitam a convivência com os traficantes e que, às vezes, também oferecem sua colaboração e/ou passividade para eles. Contundo nem todos se envolvem com as atividades criminais.
O filme de Mocarzel recebeu aplausos entusiasmados da platéia. O diretor também colheu simpatia por causa de sua filha Joana, portadora da síndrome de Down, que participa da novela Páginas da Vida, onde sua personagem é filha adotiva de Regina Duarte.