O texto que segue abaixo foi publicado na edição impressa do jornal Correio Braziliense (http://impresso.correioweb.com.br/html/sessao_56/2011/07/23/interna_noticia,id_sessao=56&id_noticia=186351/interna_noticia.shtml). Tematiza os maestros que atuam em Brasília.
Aroldo José Marinho
Maior interesse na academia
Nahima Maciel
Professor de regência na Universidade de Brasília (UnB) e com um acúmulo de mais de 10 anos dedicados à formação, o maestro David Junker acha indispensável a passagem pela academia. “Logicamente que o curso universitário não é suficiente, mas no ambiente acadêmico você tem estruturas desenvolvidas para cada um dos estágios da formação.” Junker está à frente de três corais — Coro Comunitário da UnB, Madrigal UnB e o coral da Igreja Metodista da Asa Norte — e não vê muita diferença entre reger vozes ou instrumentos. “A formação inicial é a mesma”, avisa. E a demanda na área do canto é maior em Brasília. Há duas décadas na UnB, ele vê com certo entusiasmo o aumento da procura pelo curso. São seis anos de formação e uma média de 20 alunos por semestre, metade do número de aspirantes que procuram a especialidade.
Felipe Alaya é um deles. Ele quer ser maestro desde os 15 anos, quando começou a cantar em um coral e passou a ajudar o regente. Hoje, aos 20, está a meio caminho do curso da UnB. “O poder que o maestro tem nas mãos de levar outras pessoas a interpretarem a música me seduziu”, conta. Poder é uma palavra associada à função com certa frequência. Faz parte do mito, cultivado especialmente no século 19, quando surgiu a figura do maestro em resposta à necessidade de controlar as grandes orquestras sinfônicas formadas por mais de 80 músicos.
Antes, as formações eram menores e costumavam ser regidas pelo primeiro violino. A hierarquia virou coisa séria e quase ditatorial quando a batuta estava nas mãos de lendas como Arturo Toscanini e Herbert von Karajan. “Mas as coisas mudaram”, aponta Claudio Cohen. Posturas mais conciliatórias se tornaram tendência no século 21. “Um maestro tem que entender muito de relações humanas e não pode ser autoritário”, acredita David Junker. A única coisa que ainda não virou tendência é a presença de mulheres.
Felipe Alaya é um deles. Ele quer ser maestro desde os 15 anos, quando começou a cantar em um coral e passou a ajudar o regente. Hoje, aos 20, está a meio caminho do curso da UnB. “O poder que o maestro tem nas mãos de levar outras pessoas a interpretarem a música me seduziu”, conta. Poder é uma palavra associada à função com certa frequência. Faz parte do mito, cultivado especialmente no século 19, quando surgiu a figura do maestro em resposta à necessidade de controlar as grandes orquestras sinfônicas formadas por mais de 80 músicos.
Antes, as formações eram menores e costumavam ser regidas pelo primeiro violino. A hierarquia virou coisa séria e quase ditatorial quando a batuta estava nas mãos de lendas como Arturo Toscanini e Herbert von Karajan. “Mas as coisas mudaram”, aponta Claudio Cohen. Posturas mais conciliatórias se tornaram tendência no século 21. “Um maestro tem que entender muito de relações humanas e não pode ser autoritário”, acredita David Junker. A única coisa que ainda não virou tendência é a presença de mulheres.
Sedução
Isabella Sekeff tem algumas teorias para tal ausência e uma delas é a dificuldade em conciliar a vida de regente e a família. Inúmeras vezes ela ouviu a filha apontar a profissão da mãe como causa de as duas não passarem mais tempo juntas. A cultura é outro fator. “É uma questão de tradição. É uma posição de grande autoridade, o maestro tem um poder e isso é muito ligado ao homem.
A mulher fica mais com esse lado que executa. Não acho que seja machismo, porque esse termo é pejorativo. É cultural mesmo.” Isabella percebeu o gosto pela regência quando tocava clarineta na Orquestra de Senhoritas. Daí para reger corais foi muito rápido.
Uma tendinite impossibilitou a prática da clarineta, ela foi reger um coral de crianças e há 20 anos criou o Cantus Firmus. “Apesar da técnica de regência de orquestra e coral serem muito parecidas, o repertório é diferente e as pessoas do coral não são necessariamente músicos”, repara.
“O instrumentista se expressa através do seu instrumento e meu instrumento é o coral. A voz me seduz muito.”
A ideia de tornar reais os sons imaginados na cabeça também seduziu Joaquim França. Ele trocou a Macapá natal por Brasília em 1988 porque queria ser maestro e não havia orquestras no Amapá. Entrou para a UnB quando Claudio Santoro ainda era vivo, mas o compositor já estava morto quando França chegou à disciplina de regência.
As aulas eventuais com maestros convidados que passavam pela cidade ajudaram a corrigir os inúmeros erros e, em 1995, França foi convidado para reger a Orquestra Jovem de Brasília, mais tarde transformada em Orquestra Filarmônica.
Com Eleazar de Carvalho, um dos nomes mais importantes da história da regência no Brasil, ele aprendeu o sentido da prática: “Reger é como se você estivesse desenhando a música com o gestual para o músico entender”.
Por ser gestual, França recomenda até mesmo o estudo em frente ao espelho. Não para burilar questões estéticas, mas para exercitar a precisão. E não há fórmulas.
Alguns regentes conseguem dar o recado com gestos minimalistas, outros se descabelam, suam e parecem exageradamente espalhafatosos. Aí está a parte mais humana do pequeno pódio, ainda que a música saia com perfeição divina. Cada corpo é diferente e cada regência é fruto da individualidade que pode fazer da música um prazer sublime ou um completo desastre.
A mulher fica mais com esse lado que executa. Não acho que seja machismo, porque esse termo é pejorativo. É cultural mesmo.” Isabella percebeu o gosto pela regência quando tocava clarineta na Orquestra de Senhoritas. Daí para reger corais foi muito rápido.
Uma tendinite impossibilitou a prática da clarineta, ela foi reger um coral de crianças e há 20 anos criou o Cantus Firmus. “Apesar da técnica de regência de orquestra e coral serem muito parecidas, o repertório é diferente e as pessoas do coral não são necessariamente músicos”, repara.
“O instrumentista se expressa através do seu instrumento e meu instrumento é o coral. A voz me seduz muito.”
A ideia de tornar reais os sons imaginados na cabeça também seduziu Joaquim França. Ele trocou a Macapá natal por Brasília em 1988 porque queria ser maestro e não havia orquestras no Amapá. Entrou para a UnB quando Claudio Santoro ainda era vivo, mas o compositor já estava morto quando França chegou à disciplina de regência.
As aulas eventuais com maestros convidados que passavam pela cidade ajudaram a corrigir os inúmeros erros e, em 1995, França foi convidado para reger a Orquestra Jovem de Brasília, mais tarde transformada em Orquestra Filarmônica.
Com Eleazar de Carvalho, um dos nomes mais importantes da história da regência no Brasil, ele aprendeu o sentido da prática: “Reger é como se você estivesse desenhando a música com o gestual para o músico entender”.
Por ser gestual, França recomenda até mesmo o estudo em frente ao espelho. Não para burilar questões estéticas, mas para exercitar a precisão. E não há fórmulas.
Alguns regentes conseguem dar o recado com gestos minimalistas, outros se descabelam, suam e parecem exageradamente espalhafatosos. Aí está a parte mais humana do pequeno pódio, ainda que a música saia com perfeição divina. Cada corpo é diferente e cada regência é fruto da individualidade que pode fazer da música um prazer sublime ou um completo desastre.
Silvio Barbato
Claudio Cohen, atual maestro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional, se iniciou na regência com o maestro Silvio Barbato (1957-2009). Barbato (foto) dirigiu a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro por duas vezes, de 1989 a 1992 e de 1999 a 2006. Estudou composição e regência com Claudio Santoro, na Universidade de Brasília. Em 2001, ele recebeu o Grande Prêmio Cinema Brasil por seu trabalho como diretor musical do filme Villa-Lobos, uma vida de paixão, dirigido por Zelito Vianna. Silvio Barbato morreu no acidente do Airbus da Air France, em 1 de junho de 2009.
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