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20 maio 2009

Obrigado Alfonsín

Há certas notícias que para serem comentadas com isenção, respeito e dignidade, é preciso deixar passar um tempo em relação à data que ocorreramo. Por exemplo, os anúncios sobre aniversários ou falecimentos. Creio que é uma postura boa para que se possa tentar escrever sobre os fato sem ser colhido pelo clima emocional que estes possam causar na maioria das pessoas. Por isso é que, só hoje, decidi postar texto sobre Raúl Alfonsín, falecido no dia 31 de março, em Buenos Aires, aos 82 anos. Ele foi vitimado por uma pneumonia agravada por um câncer pulmonar que o acometia desde 2007.

Talvez as pessoas que nasceram bem depois de 1983 não saibam que quem foi Alfonsín. Por isso é bom informar que ele foi presidente da Argentina logo depois que o vizinho país se libertou da ditadura militar que fez seu povo sofrer de 1976 a 1983. Neste período, os militares, aproveitando do desgaste do governo de Isabel Perón, assumiram o poder, dando início ao período de trevas, torturas e vergonha moral no país. Provavelmente, alguém entre os leitores e as leitoras desta postagem, ouviu falar que, naquela época as pessoas que faziam oposição à ditadura eram presas, torturadas, colocadas em aviões militares e depois jogadas no bem no meio do oceano Atlântico. E pensou que era mentira. Não faz sentido uma coisa dessa. Não faz mesmo. Mas era verdade sim. VERDADEIRA!!!! A milicada argentina fez isto e muitas outras coisas que os livros de histórias e alguns filmes políticos lhes informarão bem melhor do que eu.

Não contentes por privar as pessoas da democracia, os militares usaram o futebol para dar a impressão de que estava tudo bem no país. Aliás, este recurso foi usado também pela ditadura brasileira, em 1970. Os golpistas vendiam para pessoas comuns a idéia de que tudo estava bem e, enquanto isso, nos porões, promoviam torturas e diversos tipos desrespeito ao ser humano. Coisas como violentar mulheres grávidas na frente de seus maridos para que estes pudessem fornecer informações que interessasem aos militares. Curioso é que, volta e meia, ouço algum cretino dizer que na época da ditadura tudo era melhor. Juro que tenho pena de quem usa a boca com se fosse uma enorme privada.
A ditadura argentina, num acesso de megalomania, decidiu entrar em guerra contra a Inglaterra. Motivo: a soberania das ilhas Malvinas (Falklands, para os ingleses). Botando o país na guerra, eles acreditavam criar uma onda de patriotismos que fizessem as pessoas esquecerem do mal feito por eles à Argentina. Os oficiais governantes ficaram em Buenos Aires e mandaram os jovens para o front enfrentar um aparelhado exército inglês. Se esta pantomima acontecesse no futebol, poderíamos dizer que a Inglaterra venceu de goleada. Só que aqui, em vez de bola na rede, houve muito corpo de jovem argentino tombando.
Foi após a derrota nas Malvinas que começou a ganhar força o desejo de fazer a Argentina retornar à vida democrática. De cabeça baixa, os militares tiveram que aceitar que era o momento de entregar o poder para a sociedade. Foram marcadas eleições. É aqui que entra em cena o protagonista deste texto. Advogado de profissão, líder da União Cívica Radical (UCR), um partido de centro, foi um dos candidatos à presidência da república. Venceu! Governou a Argentina entre 1983 e 1989, período conturbado pelos ressentimentos causados por uma ditadura que perseguiu e matou milhares de dissidentes durante os sete anos que esteve no poder. Lembro que, em 1983, muitos brasileiros, entre eles, eu, ficaram morrendo de inveja dos hermanos. A ditadura deles começou bem depois da nossa e terminou antes.
O presidente eleito tomou atitudes importantes como a fundação Assembleia Permanente pelos Direitos Humanos (APDH), relevante na luta contra o autoritarismo e a repressão ilegal. Porém o ato que mais fascinou os amantes da democracia de todas as partes do mundo aconteceu em 1985. Deu condições para que a justiça fizesse o histórico julgamento da Junta Militar em 1985, que acabou com a prisão da cúpula da ditadura. Isso mesmo, ele mandou torturadores e seus chefes de pijama cadeia. Nesse período, muitos de nós, inclusive, eu, queriam um bem enorme para Alfonsín. Um respeito do tamanho do mundo.
Por causa das investigações, seu governo sofreu ameaça de desestabilização. Ocorreram rebeliões e levantes militares, executas pelos chamados cara pintadas. Felizmente, foram sufocadas por tropas leais e com a presença popular nas ruas. Nesse contexto, entre 1986 e 1987, o Executivo impulsionou a aprovação parlamentar das leis de Obediência Devida e Ponto Final, que isentaram de responsabilidade mais de mil de acusados de crimes de lesa-humanidade.
Os problemas econômicos tão comuns nos anos 80 estão entre os fatores que contribuiram para que ele fosse sucedido no porder por Carlos Meném. Sobre Meném, vale lembrar que seu governo foi marcado por atitudes e bravatas que fazem recordar o Brasil dirigido por Collor de Melo. Ainda: Meném ficou famoso por ordenar o despejo de sua esposa, da qual estava em vias de separação, da residência oficial. Sem comentários.
O dito popular costuma lembrar que vaso ruim não quebra. Mas vaso bom, às vezes, demorar a quebrar. Cito a frase para informar que, em 1999, Alfonsín sofreu um grave acidente de carro. Foi hospitalizado em coma. As chances de sobrevivência não eram grandes. Porém ele conseguiu se recuperou.
Comentar sobre Alfonsín me faz caminhar de volta á minha adolescência. Quando ele se tornou presidente argetino, eu tinha 16 anos, morava em Macapá (AP), minha cidade natal, e era estudante do segundo grau (atual ensino médio). Era um adolescente inquieto que estava começando a entender algumas coisas do mundo e se aborrecia com a monotonia da cidade. O pouco que sabia de política vinha das informações dadas por alguns amigos mais velhos, de formação progressista. É nesse contexto que eu comecei a perceber a grandeza de Alfonsín.
Como muitos brasileiros, eu curtia quando as equipes esportivas da Argentina eram derrotadas pelo mundo a fora. Fato ilustrativo é a festa feita em casa quando, na copa da Espanha, em 1982, o Brasil pegou a seleção de Maradona e meteu 3x1. E mais, o pequeno notável foi expulso. Mas do que adiantava a gente fazer festa em cima da seleção deles se, depois, os caras nos deram uma goleada ao voltarem primeiro à democracia do que nós. O fato deles mandarem os milicos para as barras da justiça nos emocionava. Então vinha na cabeça a pergunta: Oh Deus! Quando vamos poder fazer igual aos argentinos? A pergunta continua: Quando?

Pois é. Fui escrevendo muito. A emoção tomou conta e eu fui atrás. Mas texto de blog não pode ser extenso senão espanta os leitores e as leitoras. Por isso, é bom preparar o final. Raúl Alfonsín faleceu. Sua ida para o plano superior da existência merece muitas homenagens de herói. Viva Alfonsín, o homem da democracia!!! Um cara que teve compromisso com as coisas corretas e éticas. Que a sua postura como presidente sirva como exemplo para os atuais mandatários da América Latina.
Aroldo José Marinho
Obs: Roséli! depois você me conta o que sentiu quando soube do sequestro de Lilian Celiberti, Universindo Diaz e os filhos dela. Beijos!

10 comentários:

Paola Vannucci disse...

Aroldo,

quanta informação boa aqui, desde o futebol e até PT,

fico feliz em poder ler e aprender cm vc

beijos

Paola

Harold disse...

Minha doce Paola!
Me alegro com sua visita. Agradeço de coração seu comentário. Bom saber que o blog está, de alguma forma, sendo útil para as pessoas que me dão a honra da visita.
E você, como está? Espero saber mais notícias suas.
Beijos e festas!!!!

Roséli disse...

Aroldo,
o Alfonsin tem um histórico polêmico ...
Penso que o período não tenha sido fácil; ele não resistiu às pressões militares e promulgou leis de anistia, liberando milhares de militares... apesar do bem que fez, levando muitos outros torturadores e similares à condenação na justiça ...
Té mais

Harold disse...

Oi Roséli!
A barra de um presidente nunca é fácil. Há sempre pressões dento e fora do país. Aí, o cara tem que lidar com tudo isso.
Creio que Alfonsín fez bom papel. Se errou, deve ter errado, também acertou e muito.
Beijos querida!!!!

Tamires disse...

Parabéns pela matéria ficou muito boa

Carolina disse...

Muito interessante essa boa união

Maura disse...

Verdade muitas informações relevante obrigada por compartilhar

Lidia disse...

Valeu mesmo

Helena disse...

Bela homenagem parabéns

Jorge Rico disse...

Bom conteúdo esta de parabéns pela matéria